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Ensino bilíngue na infância estimula o cérebro

Estudos recentes indicam que crianças ensinadas em mais de uma língua melhoram suas habilidades neurológicas e cognitivas

Estudos recentes apontam que o ensino em mais de uma língua na infância estimula o cérebro, melhorando habilidades não apenas relacionadas à linguagem. Os resultados apontam que o ensino bilíngue traz diversos benefícios neurológicos e cognitivos.

Por muitos anos, acreditava-se que aprender mais de uma língua ainda na infância confundia a cabeça das crianças e as impedia de aprender corretamente uma das línguas. No entanto, pesquisas recentes têm mostrado uma nova visão sobre o bilinguismo, mostrando que a exposição a outra língua interfere no cérebro de forma benéfica.

Um estudo do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, descobriu que crianças bilíngues tinham maior controle inibitório e com isso conseguiam manter o foco com mais facilidade, mesmo quando está submetida a estímulos conflitantes.

Já um levantamento da George Mason University, na Virgínia, Estados Unidos, verificou que essas crianças têm melhor desempenho em outras disciplinas, além do inglês, indicando uma relação com a melhor capacidade de concentração.

Uma pesquisa feita no Canadá na década de 1960 já indicava os benefícios do bilinguismo. Na época, os psicólogos Elizabeth Peal e Wallace Lambert, da Universidade McGill, descobriram que indivíduos bilíngues se saíam melhor que os monoglotas em 15 testes verbais e não-verbais.

Tendo isso em vista, governos de diversos estados americanos têm investido na expansão de turmas bilíngues em escolas públicas – caso de Oregon, Carolina do Norte, Delaware, Utah e Washington – e algumas escolas no Brasil já apostam nesse método de ensino. Nos últimos 20 anos, o número de escolas bilíngues no estado de São Paulo passou de 20 para 100, sendo a maioria dedicada à educação infantil (até 4 anos).

Diferenciar línguas

Contrariando a ideia de que o ensino bilíngue traria confusão entre idiomas, a coordenadora da pós-graduação em Educação Bilíngue do Instituto Singularidades, Antonieta Megale, afirma que isso não ocorre porque a alfabetização em duas línguas é um processo único e que o aluno aplica o conhecimento de uma língua na outra. “Entre o inglês e o português, muito aprendizado é transferível. Por exemplo, a psicomotricidade, a junção entre letras e sílabas”.

Além disso, um estudo da neurocientista americana Laura Ann Petitto, da Univesidade Gallaudet, descobriu que crianças bilíngues tem uma atividade neurológica maior quando ouvem línguas totalmente desconhecidas ao final de seu primeiro ano de vida. Com isso, a criança não perde a capacidade de entender e aprender outros idiomas.

Apesar dos benefícios, a coordenadora associada do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Norma Sandra Ferreira, alerta para a abordagem e o estímulo usado pelos colégios. “Muitos pais põem o filho em escolas bilíngues por entender que vai ter um inglês melhor pra vida adulta e que isso vai destacá-lo no mercado de trabalho. Esse aprendizado não pode tirar o espaço de brincadeira e aprender livre das crianças”.


Fonte: Opinião & Notícia